quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Crítica - Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro

Quando o primeiro "Tropa de Elite" (Brasil, 2007) chegou aos cinemas o filme já tinha virado assunto nacional devido a cópia pirata do filme que vazou na internet e logo se tornou assunto em todas as rodas de conversas. Se no primeiro filme o foco era o BOPE e todo o treinamento que os "aspiras" passavam para integrar o batalhão de elite, em "Tropa de Elite 2 - O Inimigo Agora é Outro" (Brasil, 20010) o foco passa a ser as milícias e o discurso pela segurança pública no Rio de Janeiro. E antes de mais nada o filme supera o original em todos os aspectos.

O filme começa em 2006 e voltamos a encontrar Nascimento, agora como Tenente-Coronel do BOPE e Matias como Capitão, posto que era de Nascimento no filme original. Ao serem chamados para conter uma rebelião em Bangu I, promovida pelo bandido Beirada (Seu Jorge) e a operação fugir ao controle de Nascimento e terminar de forma inesperada e virar alvo de críticas por parte dos ativistas dos direitos humanos. Logo a única escolha dos governantes é afastar Nascimento e Matias do BOPE, e colocá-los em outras funções. Porém é esse fato que será a centelha para todo o resto da trama do filme.

Quatro anos se passam e estamos em 2010. Nascimento se torna sub-secretário de segurança pública e torna o BOPE uma máquina de guerra, capaz de varrer o tráfico das favelas do rio, mas ao pensar que está trazendo a paz para o Rio de Janeiro, na verdade o BOPE abre caminho para um inimigo muito mais perigoso que são as milícias, formadas pelos corruptos que integravam outras corporações e que antes recebiam a "mesada" do tráfico, só que este uma vez enfraquecido não tem mais como bancar os policias corruptos que veem a chance de entrar nas comunidades e tomar para si os lucros. É a partir dai que "Tropa de Elite 2" segue com o seu discurso sobre política, segurança pública e todas as mazelas que as milícias provocam nas comunidades.

Seguindo a mesma estrutura de roteiro do primeiro filme, onde o filme começa com uma cena de ação e volta no tempo para depois avançar até o seu desfecho é perfeito em todos os aspectos. Pois José Padilha e Bráulio Mantovani escreveram uma história que não deixa brechas e que ao mesmo tempo promove um debate sobre vários assuntos que são críticos não só para a cidade do Rio de Janeiro, quanto para todo o Brasil. E é o roteiro um dos maiores trunfos do filme.

Os novos personagens que entram no filme enriquecem ainda mais a trama e não será difícil de fazer a relação entre alguns personagens da ficção e quem eles seriam na vida real, pois as referências são muitas. Entre os novos personagens estão a repórter Clara (Taína Muller), o deputado Fraga (Irandhir Santos), Russo (Sandro Rocha) e Fortunato (André Mattos), e todos encontram seu lugar na trama de forma a contribuir para que a história funcione bem.

Wagner Moura continua perfeito como Nascimento e se no primeiro filme o seu personagem já tinha um devido destaque, em Tropa 2 o ator tem como explorá-lo ainda mais, seja na sua conturbada relação com o seu filho adolescente, com a ex-mulher e com o atual marido desta. Mas existem outros elementos no filme capazes de fazer o ator explorar ainda mais o seu personagem, como na cena em que Nascimento entra em casa depois de mais um dia de trabalho e parece carregar todo o peso do mundo nas suas costas.

As frases de efeito que viraram bordões e cairam nas graças do público com o primeiro filme, foram substituídas por outras, tão boas quanto as originais e tem tudo para virarem novos bordões.

E além disso tudo o filme ainda irá promover uma discussão sobre vários fatos que afringem o Rio de Janeiro, como a segurança pública, política, milícias e a corrupção no polícia e nos altos escalões do governo.

O cinema nacional finalmente alcança a sua maturidade em um filme que se mostra perfeito em todos os aspectos. As devidas homenagens são feitas a quem é de direito e até Costa Gravas é homenageado em uma das sequências do filme, com nomes de vários dos seus filmes exibidos nos letreiros de um cinema, como se fosse um festival com os filmes do diretor.

No final fica a certeza de que "Tropa de Elite 2" irá conquistar prêmios em vários festivais mundo afora e não será surpresa se ele concorrer ao Oscar e ganhar finalmente o prêmio para o nosso país. Afinal de contas parafraseando Nascimento "E agora parceiro o bicho vai pegar!".

domingo, 17 de outubro de 2010

Crítica - Comer Rezar Amar

Sempre me venderam a idéia de que tanto o livro quanto o filme "Comer Rezar Amar" (Eat Pray Love, EUA 2010) era totalmente "mulherzinha", porém para a minha surpresa existe muito mais por trás do que somente uma história de amor, existe ali uma história sobre o auto-descobrimento. Uma história que faz você refletir sobre vários aspectos da sua vida e não é difícil de se identificar com a personagem Liz Gilbert (autora do livro na vida real) vivida pela atriz Julia Roberts.

Liz é casada, tem uma boa casa e uma carreira de sucesso. Porém não se sente feliz ao lado do marido e resolve então se divorciar e se lançar em uma viagem para que ela se conheça a si mesma e será nesta viagem ao redor do mundo, que a personagem irá levar o público para refletir sobre várias questões da vida.

A viagem começa pela Itália, mais precisamente na cidade de Roma. Será nesta cidade em torno das suas ruínas e vielas que Liz irá começar a sua jornada. Em meios aos pratos de massa, vinhos e doces e conversas com pessoas que cruzam o seu caminho, que ela irá entender que existem momentos na vida  em que você deve se entregar a certos prazeres sem se culpar por aquilo e sem arrependimentos. Outra passagem interessante, ainda em solo italiano, é a visita que a personagem faz a uma ruína e escuta de um dos seus amigos italianos que as vezes na vida devemos ser igual as ruínas que são destruídas, porém resistem ao tempo e as adversidades e são restauradas, ou seja, seria um renascimento. E esta é uma das grandes lições do filme as vezes devemos chegar ao fundo do poço para então somente nos reerguermos.

A segunda parada da viagem é na Índia, onde Liz vai para aprender a rezar e meditar. Logo ao chegar ela conhece um homem que esta ali para meditar e se livrar de um trauma que o atormenta a anos. Será com essa amizade que Liz irá aprender que para seguir na vida ela deve perdoar as pessoas e não guardar ressentimentos, pois magoas passadas não fazem bem a ninguém.

Por fim o filme nos leva a Bali, e nesta exótica ilha da Indonésia, onde os caminhos de Liz irão cruzar com uma menina pobre e sua mãe, que nutrem o sonho de ter uma moradia na ilha, com um guru (personagem que Liz conheceu em uma das suas viagens anteriores a Bali) e com um brasileiro chamado Felipe (vivido pelo ator Javier Barden) com o qual ela irá aprender a amar.

O destaque maior do filme é a belíssima fotografia, que é perfeita para narrar a jornada de auto-conhecimento da personagem. Pode-se até dizer que a fotografia é sem sombra de dúvidas uma "personagem" do filme.

Outro destaque é a trilha sonora, que tem canções brasileiras em seu repertório no momento em que a personagem está em Bali ao lado de Felipe.

Porém existe um ponto fraco no filme, se as passagens pela Itália e Índia não sejam consativas e passem até "rápidas" demais, a viagem da personagem por Bali que deveria ser o ponto alto da história, as vezes se perde e se prolonga demais, para contar o que todo o público já sabe o que vai acontecer. Neste momento faltou ao diretor Ryan Murphy (egresso de séries de TVs como Glee e Nip/Tuck) dar mais agilidade ao filme no momento do seu desfecho, que se mostra um pouco morno.

Tenho que confessar que o filme me surpreendeu, apesar das poucas falhas que encontrei no mesmo, pois é muito difícil não se identificar com algumas das histórias ou situações que cruzam o caminho de Liz, na sua jornada pelo auto-conhecimento.

O resultado final é um bom filme sobre auto-conhecimento, se livrar de mágoas passadas, seguir a vida e ter sempre a esperança que dias melhores virão, mas para isso acontecer é preciso antes de mais nada se conhecer, perdoar e voltar a amar.