domingo, 25 de abril de 2010

Documentário Crítrica - Capitalismo: Uma História de Amor

O cineasta/documentarista Michael Moore parece ter uma fonte inesgotável de temas e idéias para os seus documentários a cada ano que passa. Depois de mirar as suas armas para a temática da violência no aclamado "Tiros em Columbine" (Bowling for Columbine, EUA 2002), nos mostrar o outro lado da história dos ataques terroristas do 11/09, no excelente "Fahrenheit 9/11" (Fahrenheit 9/11, EUA 2004) e dissecar o sistema de hospitalar americano em "Sicko" (Sicko, EUA 2007). Moore junta um pouco de tudo do que deu certo nos seus trabalhos anteriores e lança o seu olhar crítico sobre a crise econômica que se abateu em várias partes do mundo capitalista com o seu melhor trabalho até então em "Capitalismo: Uma História de Amor" (Capitalism: A Love Story, EUA 2009).

É verdade que o filme não será lançado no circuito de cinema brasileiro indo direto para o mercado de home video (DVD) por aqui, uma pena diga-se de passagem. 

Consegui assistir ao filme no cinema, pois o mesmo fazia parte da 15º Mostra de Documentários "É Tudo Verdade", alias um acerto da organização em programar este documentário. Porém em junho o mesmo estará disponível nas locadoras onde deve atingir o público e os fãs do diretor.

Ao longo das 2 horas de projeção, Moore faz uma radiografia nua e crua de todo o sistema capitalista que foi imposta pelos EUA ao resto do mundo. Lógico que sobram farpas para o ex-presidente dos EUA George Bush, inimigo declarado do diretor, para o modo como os empregados são tratados pelas empresas (onde por incrível que pareça valem mais mortos do que vivos!!!) e para o sistema imobiliário americano que foi o que deflagou a crise financeira. Além de claro mais uma vez o diretor mirar as suas lentes para a cidade de Flint, Michigan nos EUA que é a sua cidade natal e local onde ele mesmo realizou o seu primeiro documentário (Roger e Eu, EUA 1989).

Nota-se perfeitamente que as idéias foram encadeadas de forma que não hajam contra argumentos para o que esta sendo apresentado ao público, e isso é fruto com certeza de uma pesquisa sólida por parte do diretor sobre os temas apresentados no filme.

Também percebe-se que Michael Moore está muito mais maduro, mas não perdeu em nada a sua irreverência e cinismo ao tratar de certos temas durante o longa, e isso fica nítido para a platéia quando este ao volante de um carro forte resolve ir até as sedes dos bancos americanos dizendo que está lá para pegar o que foi roubado do povo por estes, ou quando ao questionar um funcionário de uma determinada empresa que trabalha na bolsa de valores para explicar para ele o que é um derivativo e o mesmo não sabe explicar, o diretor coloca seus comentários ácidos e cínicos de forma a fornecer argumentos plausíveis para o que está sendo discutido.

Resumindo é o melhor trabalho do diretor até o momento, porém não encontrou espaço nas salas de cinema por aqui infelizmente. Seria porque os exibidores estejam com medo de passar a informação para um maior número de pessoas comecem a se questionar sobre o que é ideal ou não? É faz sentido vai que as pessoas queiram atender ao apelo que o diretor faz ao final da projeção, alias a cena é perfeita para encerrar este excelente trabalho de Michael Moore.

domingo, 18 de abril de 2010

Crítica - Mary e Max: Uma Amizade Diferente

Em plano século 21 onde a internet é responsável por unir pessoas de diferentes lugares do planeta. Em épocas de Orkuts, Twitters, Facebooks e muitas outras redes de relacionamento, pode-se dizer que ainda existem amizades verdadeiras? Pode uma amizade virtual atravessar décadas? E quando nada disso existia era possível manter uma amizade a distância, por anos a fio e enfrentando todos os problemas que uma amizade pode ter? É exatamente a resposta a essa última pergunta que o filme de animação "Mary e Max: Uma Amizade Diferente" (Mary and Max, Australia 2009) responde de forma singela e sem igual.

É verdade que o tema amizade já serviu de pano de fundo para várias histórias que foram levadas as telas dos cinemas, mas tratar o tema de forma tão sútil e pura era tarefa difícil e coube a está excelente animação conseguir tal proeza.

Logo no ínicio do filme os espectadores são apresentados a Mary Daisy Dinkles uma garotinha australiana de 8 anos de idade que não tem amigos e vive com os seus pais em uma pequena casa nos subúrbios de Melborne. A vida de Mary não é nada fácil, pois a sua mãe além de ser alcoolotra e cleptomaniaca, quase não liga para ela, assim como o seu pai que é ausente da sua vida . 

Com isso os "amigos" de Mary são o seu galo de estimação e os personagens de um desenho animado assistido por ela chamado "The Tootles" que tem como tema a amizade entre vários personagens. É essa carência por uma amizade verdadeira que leva a pequena Mary a resolver escrever aleatoriamente uma carta para alguém nos Estados Unidos e ao acaso chega ao nome de Max Jerry Horowitz e dai para frente as cartas escritas por ambos os personagens irá ser o fio condutor da trama.
Além de tratar do tema amizade, o filme trata de outras questões como solidão, depressão, esperança, sonhos, anseios e muitos outros temas que são sempre as angústias que todo o ser humano tem ao longo da sua vida.

Um grande acerto do filme é utilizar praticamente ao longo de toda a projeção a narração in-off para contar a história, são raríssimas as vezes que os personagens abrem a boca para dizer alguma coisa, porém tudo o que pensam é narrado aos espectadores pelos pensamentos desses personagens.

O visual do filme é outro grande acerto, a vida de Mary as vezes fica colorida em tons de marrom e mais leves do que os tons de cinza utilizados quando nos é narrada a vida de Max, talvez a única cor na vida de Max seja o desenho que Mary faz de si mesma para mandar para Max em sua primeira carta  para ele e um pompom vermelho, que Max passa a usar em cima da sua cabeça, presentes que veem por parte de uma amizade verdadeira que começam a dar cor a sua vida.

Porém todas as amizades verdadeiras tem seus altos e baixos, pois nada é perfeito na vida. As décadas passam a amizade dos dois atravessam estas e mesmo distante ambos se ajudam, se decepcionam, pedem desculpas, enfim tudo o que uma amizade verdadeira exige.

Outro detalhe é que praticamente existem referências escondidas de formas sutis ao longo de todo o filme, seja nos pensamentos dos personagens ou nos títulos de livros ou em objetos que compõem o cenário. Tudo funciona de forma perfeita e harmônica e contribui para o conjunto da idéia central do filme.

No final não será surpresa se algumas lágrimas escorrerem pelos cantos dos olhos, pois o que se passou na tela é uma história de amizade sincera, que vem de dentro de cada um de nós... na verdade vem de dentro dos nossos corações.

domingo, 4 de abril de 2010

Crítica - Como Treinar o Seu Dragão 3D

Qual é a melhor maneira de se tratar uma determinada fragilidade? Por que a intolerância entre raças pode levar ambas a extinção? E o que pode ser feito para mudar esse cenário? É partindo dessas premissas e tendo como aliado um roteiro enxuto e coeso que "Como Treinar o Seu Dragão" (How To Train Your Dragon, EUA 2010) se baseia, para contar a história do jovem Soluço e de seu dragão Banguela , e ainda de tabela levar a narrativa das animações em 3D para um outro patamar.

Logo no ínicio da projeção os espectadores são apresentados a fictícia Berk, a cidade Viking ,onde a maior parte da ação do filme se passa.É através da narração in-off de Soluço que ficamos sabendo que a cidade é constantemente atacada por dragões que vem atrás dos animais que são criados em Berk. Em um desses ataques, Soluço vê a chance de mostrar o seu valor a todos os habitantes da tribo, capturando um dragão da espécie fúria da noite e por um puro acaso da sorte acaba por abater um da espécie e vai até o ponto onde o dragão caiu, mas na hora de abate-lo ele não tem coragem e desisti e acaba por soltar o dragão. A partir desse ponto o filme aos poucos vai mostrar ao público a amizade que se desenvolve aos poucos entre o menino e o dragão e como ambos irão superar os seus medos, fragilidades e desenvolverem uma amizade verdadeira.

Porém Soluço só tem um problema a resolver, pois o seu pai que é o chefe da tribo quer que o filho seja treinado como um verdadeiro Viking e para isso ele terá que provar o seu valor matando um dragão após o final do treinamento na frente da tribo. Só que a sua amizade com Banguela o ensina a lidar com os dragões, o que o torna de um jeito ou de outro uma celebridade na tribo.
Com cenas de vôos panorâmicos de tirar o folêgo e efeitos 3D de primeira linha que se adequam a narrativa, o filme é muito mais que uma mera animação para crianças, que irá agradar em cheio aos adultos que curtem cinema de animação, pois serão estes que consegiram captar todas as mensagens que o filme tem a passar. 

A trilha sonora é correta e a palheta de cores escolhida é perfeita para compor as cenas, com o destaque para a cena do duelo final em que os dragões realmente parecem estar voando dentro da sala do cinema.

Com vozes de Gerard Butler e America Ferrara na versão legendada que está disponível em algumas salas e sessões (inclusive em 3D), os dubladores não compromentem o trabalho dos animadores e dão vida a seus personagens.

Com esse filme a Dreamworks Animation coloca um candidado de peso já pela briga pelo Oscar de melhor animação do próximo ano, ainda falta muito é verdade, mas este filme não poderá ser desprezado e ao menos deverá constar na lista dos melhores. Afinal não é todos os dias que uma excelente história é levada as telas de forma tão sincera e sútil, com lições que nos fazem pensar ao final da sessão.