Quando o primeiro filme da franquia Shrek (Shrek, EUA 2001) saiu a quase 10 anos atrás, ninguém esperava que um desenho animado digital fosse ser tão politicamente incorreto a ponto de virar de cabeça para baixo o mundo dos contos de fadas, que já estava bem consolidado pelos clássicos da Disney. E foi exatamente essa quebra de regras que fez de Shrek um sucesso imediato e a cada piada o espectador se surpreendia.
Com o sucesso do primeiro filme era mais que evidente que a PDI/Dreamworks iria investir em uma continuação, porém como criar uma história que surpreende-se o público pela segunda vez sem repetir as piadas do primeiro filme. A solução encontrada foi perfeita e passar a história para o reino de Tão Tão Distante e fazer deste uma paródia de Beverly Hills com as suas avenidas e mansões funcionou ainda melhor que no primeiro longa e Shrek 2 (Shrek 2, EUA 2004) não só era mais engraçado que o original, além de acertar em cheio na criação de novos elementos como o Gato de Botas (afinal quem não se lembra da cara de piedade do gato numa das muitas sequências hilárias do longa). Tendo arrecado até mais que o primeiro filme a fatura já estaria mais que paga se parasse por ai.
Porém o show deve sempre continuar e os produtores resolveram então partir para o terceiro, que pelos planos seria um último filme para fechar uma trilogia. Só que o tiro saiu pela culatra e Shrek Terceiro (Shrek The Third, EUA 2007), não só é o pior filme da franquia como seria o derradeiro se não fosse a tecnologia 3D despontar e se consolidar nos anos seguintes. Nada funcionou no terceiro capítulo, piadas cansadas, trilha sonora monótona e um filme totalmente sem a graça e o humor ácido dos dois primeiros. Me lembro que na época após assistir o filme me questionei se havia realmente visto um filme de Shrek, será então que esta era a grande piada? Não parecer um filme de Shrek.
Passaram-se mais três anos e com a chegada de 2010 a PDI/Dreamworks resolve consertar o seu erro ao ter feito o terceiro episódio e lança Shrek Para Sempre (Shrek Forever After, EUA 2010). Agora se utilizando da tecnologia 3D (diga-se de passagem que esta foi muito bem utilizada no filme) resolve fechar a história de modo a tentar dar um final mais digno para a cine série.
A premissa é interessante e reencontramos Shrek, Fiona, o Burro e todos os demais personagens vivendo felizes para sempre como em um conto de fadas. Só que Shrek não esta satisfeito com a sua vida calma de pai de família e tem saudades dos tempos em que era um ogro que assustava os aldeões e era temido por todos que entrevam em seu pântano. Após discutir com Fiona durante a festa de aniversário dos seus filhos ele diz ter o desejo de voltar a sua antiga vida. Só que neste momento o duende Rumpelstiltskin acaba por escutar e ve a chance de ter o reino de Tão Tão Distante nas suas mãos e se vingar de Shrek por um fato ocorrido no passado. Rumpelstiltskin então propõem um pacto a Shrek ele irá fazer com que o ogro viva um dia na sua antiga vida se este por sua vez der um dia do seu passado ao duende. Shrek não pensa duas vezes ao assinar o pacto e é neste momento que se vê em uma realidade alternativa de Tão Tão Distante e a partir daí o filme se mostra mais uma vez lento e sem as piadas ácidas, que foram a marca registrada do início da série e não acrescenta muito a trama dos demais filmes.
A trilha sonora se mostra cansada e é quase inexistente e está muito aquém das trilhas sonoras dos dois primeiros filmes. E em alguns casos se resgata canções dos filmes anteriores - até se entende que este filme funcione como uma homenagem a série, mas repitir músicas não ficou tão legal - como a música do final do filme.
O 3D ajuda a narrativa, porém nem o recurso é capaz de salvar o clímax final, pois fica a sensação que faltou algo ali. A salvação é a bela cena entre Fiona e Shrek e o diálogo entre eles, mas isso não é o suficiente para sustentar todo o resto, em se tratando de um filme de Shrek.
As piadas são praticamente inexistentes ao longo de todo o filme, a base do filme é a discussão das fases da vida comuns a qualquer pessoa e com este tema fazer piada é praticamente impossível.
Durante os créditos finais em 3D é possível ver um grande resumo de toda a cine série passando na tela e será neste momento que o espectador irá pensar que saudades dos primeiros filmes quando Shrek era Shrek, porém isso já ficou muito muito distante. E este capítulo final ao menos cumpre o seu papel de fechar a série de forma digna, tudo bem que não era o ideal... só se a grande piada final ainda esta sendo guardada para um quinto capítulo, mas acho bem improvável. Mas como em contos de fadas tudo é possível, assim como em Hollywood não basta sonhar um pouquinho.